domingo, 16 de outubro de 2011

"Felizes Para Sempre"

Nunca acreditei no "para sempre". Desde bem pequena, quando os contos de fadas diziam "e eles viveram felizes para sempre", eu ouvia com certa descrença. Para sempre mesmo? Quem foi o cronista que acompanhou o príncipe encantado e a princesa enfeitiçada até os últimos dias de suas vidas para saber se eles foram felizes "para sempre"? Quem pode garantir que logo após acordar a princesa Aurora do seu sono de 100 anos o príncipe não descobriu que ela tinha um tremendo bafo de onça e pensou que seria melhor ter se casado com o dragão? E vai lá saber se a fruta preferida do príncipe da Branca de Neve não era justamente maçã e ter que bani-la para sempre das compras de mês por conta do trauma da esposinha não tenha desgastado o relacionamento? Ou, sei lá, vai que pintou um ciúme dos anões...

E antes que pensem o contrário, não, eu não sou filha de pais separados. Casados e felizes há quase 25 anos, não foi daí que veio minha descrença no "para sempre".

Mas o fato é que, devido a estas histórias e ao ideal judaico-cristão de família, criou-se uma certeza de que relacionamentos são feitos para durar para sempre. Se não durar - não importa se passaram-se dois meses ou 35 anos -, "não deu certo".

Terminei um relacionamento de cinco anos há cerca de seis meses. À época muita gente vinha me perguntar - inclusive o próprio ex - por que tinha "dado errado". Por mais que eu tenha tentado, não consegui compreender que tipo de lógica alguém segue para crer que um relacionamento de cinco anos - como todos os outros, com momentos ruins mas também cheio de momentos felizes - possa ser encarado como "dar errado".

Ficamos juntos - contra todas as expectativas, considerando a pouca idade com que começamos este relacionamento - por completos cinco anos. Fui feliz e também o fiz feliz durante grande parte deste tempo. Então por que quando, devido à mudança natural dos anos, decidimos seguir caminhos separados, temos este relacionamento rotulado como "fracassado"?

Imaginem que, após quebrar o feitiço de seu amado, Bela - vinda de origem humilde - tenha se cansado de viver num castelo cheio de empregados cuidando do seu bem estar e também da sua vida. Mesmo com jantares à luz do luar e bailes até a noite acabar, ela está cansada daquela vida e até mesmo o amor pela ex-Fera já não a faz quebrar encantamentos. Ela decide então seguir sua vida como romancista e vai viajar o mundo. De que forma isso diminui o valor da dança ao som de Madame Samovar ou do amor que um dia ela sentiu? Alguém seria capaz de dizer que o relacionamento deles "não deu certo"?

Por isso, para todas as vezes em que o "para sempre" chegar ao fim, procuro me lembrar das Pessoas do Fernando:
"Valeu a pena? Tudo vale a pena se a alma não é pequena"

4 comentários:

Geovana Luzia disse...

Devo dizer que estou impressionada, Tati. Impressionada com o incrível layout, com o título original e, cara!, com esta sua escrita sensível, sincera e suave.
Você é o cara!
Posso ser sua fã? <3
Te adoro mais ainda agora, ahahahah.

Caranguejo Excêntrico disse...

Tudo é pra sempre enquanto dura. A nossa própria vida é pra sempre enquanto dura.

Aquele sunday de chocolate com farofa e calda derretida com cerejas que você saboreia lentamente pra guardar na memória o sabor não é pra sempre. Mas, mesmo depois ele que acaba, inclusive naquelas vezes em que no final a calda estava meio queimada ou a farofa passada, ainda fica aquele gostinho de experiência doce na língua.
E, fala a verdade, um bom relacionamento é exatamente como saborear um grande sunday de chocolate com farofa e calda derretida com cerejas num dia quente de verão.

Saudade de ler seus textos!

Beijo fiah!

Erik disse...

Nussa, super show!!!
Admiravelmente sincero!
Penso da mesma forma, esse rótulo de fracasso é uma coisa meio superestimada não?!

k disse...

Possuo certa dificuldade em aceitar fins. Não importa o quanto a Kate dentro de mim grite para eu let it go, é duro me desamarrar dos laços que mantive com tanto esmero. A melancolia costuma me pegar dias depois do acontecido - durante ele, nada sinto (ou pelo menos assim me convenço). Acho que os casos mais "graves" de término foram os fins de amizades com pessoas as quais eu considerava minhas melhores amigas. Olho para o legado que eles deixaram no meu jeito de ser e viver e vejo que nós demos certo, sim. Tão certo. Depois de um tempão refletindo, gosto de pensar que o período no qual eles realmente deveriam me fazer companhia simplesmente havia acabado... Acho que estou prolixa. Eu leio os teus textos e fico cheia de pensamentos inorganizáveis. Estou tentando torná-los inteligíveis. Quem sabe no decorrer da comentação eles não fiquem compreensíveis? :3