8 de março, Dia Internacional da Mulher. Também conhecido como "o dia de receber uma enxurrada de baboseiras machistas disfarçadas de 'carinho' ou 'piada'".
De propagandas de produtos de limpeza mostrando um homem sarado e seminu oferecendo "ajuda" com as tarefas domésticas àquelas cansativas mensagens de "mulher, mãe, filha, dona de casa, profissional, puta, santa, etc, etc", seja nas redes sociais pela internet, seja no trabalho, seja na TV, a verdadeira razão de existir deste dia parece ter sido esquecida há muito.
Entre tudo o que já ouvi e vi nos 24 Dias da Mulher que passei, a maior de todas as bobagens é a fatídica pergunta "Mas se tem Dia da Mulher, por que não tem Dia do Homem?".
Pela mesma razão pela qual temos Dia das Crianças, mas não Dia dos Adultos.
Por que temos Dia da Consciência Negra, mas não da Consciência Branca.
Por que temos Dia do Orgulho Gay, mas não - apesar de tentativas da bancada homofóbica - Dia do Orgulho Hétero.
Por que temos Dia do Índio, mas não Dia do Colonizador Português.
E por aí vai. Imagino que você já tenha entendido a lógica.
Não existe Dia do Homem* - ou dos adultos, ou dos brancos, dos héteros, dos colonizadores portugueses - porque o salário de um homem exercendo a mesma função de uma mulher continua sendo mais alto.
Porque ainda se diz que homens devem "ajudar" no serviço doméstico, quando o mesmo não deveria mais ser considerado responsabilidade da mulher que trabalha tanto quanto seu marido.
Porque homens não sabem - nem sonham - o que é ter medo de sair às ruas com determinada roupa ou a determinado horário ou de ficar sozinha com uma mulher ou de ir a uma festa e beber demais e correr o risco de que alguém se ache no direito de estuprá-lo pelo simples fato de ser homem.
Porque quantos são os homens assassinados por suas parceiras todos os anos pelo motivo de por elas serem considerados propriedade?
Quantos homens já foram espancados por um grupo de mulheres enquanto esperava o ônibus para o trabalho às 5 da manhã porque elas pensaram "que ele era um prostituto"?
Então, não. No próximo dia 8 de março, não me venha com flores ou chocolates ou piadinhas. Tampouco me eleve à categoria de semi-deusa por "ser dona-de-casa e profissional". Me respeite. Não me estupre. Não me trate como propriedade. Entenda que nossa casa e nossos filhos são "nossos", e que você não está "me ajudando" ao assumir estas responsabilidades, está sim fazendo sua obrigação.
Aí sim, quem sabe, a gente possa criar um Dia do Homem só para você.
*Obs.: Quando digo "homem" neste post, me refiro a homens cis heterossexuais.
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