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sexta-feira, 16 de março de 2012

Dias 10 e 11: Preparativos Para a Road Trip

Cheguei a comentar em algum momento sobre a Road Trip? Acho que não. De qualquer forma, a Road Trip foi planejada muito antes de chegarmos à África do Sul. Pai e mãe sendo guias de turismo, é claro que não iam perder a chance de levar a nova filha para passear.

O Sul da África do Sul
A viagem foi programada para o Ano Novo. Desceríamos pela costa, passando pelo Cabo da Boa Esperança, o Cabo das Agulhas – extremo sul do continente africano – e indo até uma cidadezinha banhada pelo Oceano Índico, chamada Wilderness. Tudo isso em três dias – saindo no dia 31 e voltando no dia 2.

Os dias anteriores à viagem foram dedicados às preparações. Idas ao mercado em busca de supplies, comprar mais protetor solar (porque o meu, a esta altura, tinha acabado feito água no deserto), porcarias para serem comidas durante a viagem, etc.

Pai e mãe trabalharam direto durante estes dias, portanto os encarregados dos preparativos fomos John, eu e nosso Toddynho, Max. Éramos também encarregados pela nossa própria alimentação.

Foi numa dessas em que Max sugeriu um restaurante italiano para irmos. Eu, vira-lata européia que sou, tenho aquele pezinho na Itália e não resisto a uma boa massa, então concordei na hora. Fomos almoçar no restaurante.

Ficava no segundo andar de uma loja de materiais esportivos. De frente para o mar. Com janelas panorâmicas enormes, que nos permitiram assistir de perto às pessoas praticando surf com pipas. É, com pipas. Como ninguém me avisou que o restaurante ficava em um lugar lindo, não levei minha câmera.

A comida era maravilhosa, do tipo que é difícil de encontrar até mesmo no Brasil. O melhor de tudo foi o pãozinho que serviam. Mesmo agora, mais de dois meses depois, ainda me lembro do sabor daquele pãozinho.

À noite fomos escondidos ao cassino (o pai do John tinha proibido, lembram?). Afinal de contas, não é todo dia que a gente tem a oportunidade de se divertir em um cassino, né? Acabamos perdendo mais dinheiro do que ganhamos e voltamos para casa frustrados (bom, EU voltei para casa frustrada... John se diverte mesmo é jogando, e tinha reservado um limite máximo para poder jogar).

No dia seguinte fiz John me levar à praia. Queria ter aquela sensação de estar em uma cidade litorânea, pisar na areia, molhar os pés no mar, tomar uns drinks num quiosque...

Desta vez Max, o Toddynho, preferiu ficar em casa. Fomos só John e eu a procurar um quiosque onde eu pudesse tomar meus sonhados drinks.

Pés sujos de areia e molhados do mar, não havia quiosques à vista. Apenas uma meia-dúzia de bares um pouco mais afastados, mas ainda na praia. John me mandou escolher e eu fui direto num que tinha decoração e músicas típicas africanas. Afinal de contas, eu estava na África.

John embasbacado com a beleza da praia.
Os garçons do bar/restaurante se vestiam com aquelas roupas típicas, rostos pintados e tudo. Algumas das mesas ficavam sobre uma piscina, para que a gente se sentasse com os pés na água. Como estavam todas lotadas, é claro, acabamos sentando em mesas “normais”, nas quais havia cobertores peludos.

Peraí. Cobertores peludos? Na praia? Em plena África? Exato.
Acontece que em Cape Town há muito vento, de velocidade e frio impressionantes. Para se proteger deste vento, portanto, vários restaurantes oferecem cobertores aos clientes. No fim acabamos não usando nenhum, porque o vento não estava assim tão frio.

Pedimos nossos drinks e alguns aperitivos de frutos do mar (que eu descobri que no fundo, no fundo, gosto - só continuo não gostando de camarão). Ficamos algum tempo ali, apenas curtindo a vista e os drinks.

Chegando em casa, pai nos empurrou para a cama cedo. Às nove da noite já estávamos deitadinhos, prontos para dormir. A Road Trip começaria cedo no dia seguinte.


(Novamente peço desculpas aos meus leitores - se ainda houver sobrado algum. Acabei tendo crises de inspiração e alguns problemas pessoais, além de não ter muito tempo livre. Mas estou melhor e se tudo der certo, agora vai. Já tenho alguns posts além deste escritos, então posso garantir que não vai levar tanto tempo para o próximo vir ao ar. Quero terminar logo o Diário de Bordo para poder voltar aos assuntos aleatórios de antes. Aos que ainda me lêem, fiquem ligados!)

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Dias 8 e 9: O Sapo Africano e A Pior Pipoca do Mundo

O oitavo dia começou preguiçoso. Mãe e pai levando grupos de turistas para passear, acordamos tarde. Enrola daqui, enrola dali, pensando no que faríamos naquele dia. Table Mountain (o principal cartão-postal da Cidade do Cabo) estava fora de cogitação porque entre Natal e Ano Novo as filas para subir com o bondinho estariam quilométricas.

Saímos então – John, eu e nosso companheiro de aventuras – para passear no Jardim Botânico (o daqui se chama Kirstenbosch Botanical Gardens). O caminho até lá passava pelo Morumbi (ou seja, a região das mansões) e por uma vista linda e privilegiada do lado de trás da Table Mountain, que a fazia parecer uma daquelas montanhas de filmes do King Kong.

Devo confessar agora que não sou uma grande conhecedora de botânica. No colegial foi a parte de Biologia em que me dei mais mal e nunca entendi muito bem essa coisa toda de briófitas, pteridófitas e angiospermas. Acho árvores e flores lindas como um todo e formando ou enfeitando um cenário, mas não me peça para parar de planta em planta e ficar lendo as plaquinhas com informações.

Kirstenbosch é um lugar lindo. Uma delícia, dava vontade de sentar na grama e ficar ali, ao pé da Table Mountain, apenas admirando a paisagem – o que de fato fizemos. Enquanto estávamos sentados debaixo de uma daquelas árvores típicas da África, um grupo de pessoas a uns cem metros de distância pára para observar algo se mexendo no chão.

Até aí tudo bem. Nem havia parado para prestar atenção. Mas então meu querido cunhadinho Max resolve dizer: “Hum... Acho que é um sapo”.

Eca! Eca! Eca! Irc!
Sapo. Hum. Acho que nunca comentei isso por aqui antes, e talvez agora seja um bom momento: Tenho medo de sapos. Medo, não; pavor. Não ligo para pererequinhas frias e grudentas – embora as prefira à distância –, mas a simples visão (mesmo em foto) de um sapo grande, verde e gosmento me arrepia os pêlos das costas e me paralisam. Já vi que vou sofrer quando for procurar foto para ilustrar esta parte do post.

“Hum... Acho que é um sapo”. Com estas palavras, Max fez eu me levantar de um pulo e voar para o colo do John. Aos poucos, no entanto, a área racional e curiosa do meu cérebro passou a tentar me convencer. “É um sapo africano, Tati... Você vai mesmo deixar de tirar foto dele?”. Não ligo muito para plantas, mas animais são a minha área, mesmo quando me deixam de cabelos em pé.

Ufa!
Armada com minha câmera fotográfica e munida de uma repentina onda de coragem, me aproximei da criatura. Cautelosamente, afinal de contas eu não queria sapo monstro africano nenhum me atacando. Mas ao chegar a uma distância que permitia a meus olhos míopes enxergarem, pude ver – com alívio – que não era um sapo, mas sim um caranguejo. E caranguejos eu gosto, principalmente com um bom molho em cima do meu prato.

John e Max não entendiam o que um caranguejo estaria fazendo ali, a uns bons muitos quilômetros da praia mais próxima e ao pé da montanha. Continuando nosso passeio pelo Jardim, logo descobrimos: eram comida de lontra. Não que eu tenha visto alguma, mas a placa num laguinho bem próximo dizia que elas viviam ali e se alimentavam de caranguejos (bom, pelo menos elas têm bom gosto...).

Já o dia 9 se passou como um dia comum. Sem poder ir à Table Mountain ou a outros pontos turísticos que estariam lotadíssimos até após o Ano Novo, passamos de turistas a moradores (bom, John já foi morador, mesmo...). Dia como qualquer outro em qualquer cidade onde você more. Casa, shopping, cinema.

Sim, cinema. Lembram-se de que no dia de Natal nós havíamos tentado ir ao cinema, sem sucesso? Pois é. No nono dia da minha estadia em Cape Town finalmente conseguimos. Apenas eu e John, porque Max estava em um dia de saco cheio e não quis vir com a gente. Assistimos Tintin, que me lembrou da minha infância e quando eu lia os livros do Hergé. Deu saudades e agora quero muito encontrar livros do Tintin para ler.

Como já dizia Douglas Adams no célebre livro O Guia do Mochileiro das Galáxias, não é nem um pouco interessante para os leitores quando o escritor dá todos os detalhes da vida comum. Por isso não vou dizer aqui o que mais fiz no dia 9. Não vou contar que fui ao banheiro, escovei os dentes, assisti TV, almocei, jantei, comi melancia como lanche da tarde e tirei uma soneca depois do cinema.

A única coisa que talvez seja do interesse de vocês é a pipoca que pedi. Tamanho pequeno, que era do mesmo tamanho das médias que a gente come no Cinemark, porque John não queria. Até aí tudo bem. Então experimento a pipoca, ainda no balcão, e estava faltando sal. Pedi para o atendente e ele me perguntou qual sabor de sal eu queria. Diante da minha cara de interrogação gigante, ele recitou uma lista dos tais sabores de sal disponíveis a uma velocidade e sotaque tão impressionantes que olhei para o John com cara de “Me ajuda, pelo amor de Deus”. John respondeu. “Sour cream and onion” (equivalente ao nosso “cebola e salsa”).

Com um estranho pacotinho e a pipoca na mão, nos encaminhamos para a sala de cinema. Na ingênua crença de que o conteúdo do pacotinho se tratava de sal com algum tipo de aromatizante de cebola e salsa, despejei tudo em cima da pipoca. Quem disse que eu consegui comer? Acontece que o tal “sal com sabor” era na verdade algo muito parecido com tempero de miojo. Já tentaram comer pipoca com tempero de miojo cru? Resultado: um pacote pequeno com tamanho de médio brasileiro cheio de pipoca foi parar na lata de lixo e eu fiquei com a língua cheia de pó (mesmo depois de bochechar com Coca-Cola).


Obs.: Como muitos já devem ter notado, no presente momento eu já estou de volta ao Brasil. Meus relatos se atrasaram devido a dias movimentados na minha última semana pela Cidade do Cabo. Mesmo já tendo voltado, os relatos continuam. Condensarei mais alguns “dias comuns” em um mesmo post, mas não esquecerei de nenhum. Continuem ligados. 

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Dia 7: Zhu Ni Shenri Kuaile

O dia seguinte ao Natal, dia 26 de dezembro, é – como já antecipei no post anterior – aniversário do pai do John. Acordamos no nosso costumeiro horário e lá estava o pai preparando o almoço. Almoçamos e logo arrumamos uma desculpa para sair e comprar o presente de aniversário dele (que não tínhamos conseguido comprar no Natal, lembram?).

Fomos a uma grande floricultura aqui perto. O pai, nas horas vagas, gosta de cuidar do lindo jardim/horta no quintal e pensamos que um bonsai seria o presente ideal para ele. Ledo engano. Nenhum dos bonsais era bonito o suficiente para a gente ter coragem de pagar o preço das etiquetas.

Saindo da loja, um pouco decepcionados e meio desesperados, vimos uma parte em que havia aquários. No post do meu primeiro dia eu pus uma foto das flores que eles me deram no aeroporto. Se vocês prestarem atenção, vão ver ao lado das flores uma vasilha de vidro. Pois nessa vasilha havia um peixe sem aquário.

Uma luz se acendeu em nossas cabeças. Entramos na loja e escolhemos o melhor aquário para iniciantes e mais uma meia dúzia de peixes (já que o aquário era grande demais para um peixe só). Pagamos e quando chegamos no carro fomos conferir o ticket da compra. O vendedor – muito simpático e prestativo – havia se esquecido de cobrar o aquário (cobrou apenas os peixes).

Como aqui não é Brasil e John e Max não são brasileiros, John voltou para pagar. Max e eu ficamos no carro. Após uma longa demora, John sai da loja com outro aquário idêntico ao que tínhamos acabado de comprar. Ficamos sem entender. John entra no carro e então explica:
“Entrei para pagar e o vendedor ficou surpreso (porque a maioria das pessoas não faria isso). Ele me deu, então, outro aquário para passar o código de barras no caixa. Fui lá, só que na hora em que voltei para devolver o aquário, o gerente da loja estava ao lado do vendedor. Olhei pro vendedor e ele fez uma cara de ‘Pelo amor de Deus, não diz na frente do meu chefe que eu esqueci de cobrar um aquário’. Então peguei o aquário e saí.” 
Voltamos então para casa e demos os dois aquários e os peixes para o pai, enquanto cantávamos parabéns (eu em português e os dois em chinês – como no título deste post). Max se encarregou de montar um dos aquários e o pai ficou todo feliz vendo os peixinhos coloridos nadarem de cá para lá.

Como era um dia especial, ficamos em casa com o pai. Jogando Mahjong. Foi o dia em que eu ganhei. Depois, só perdi.

O jantar de aniversário foi no restaurante da melhor amiga da mãe e minha segunda incursão no mundo dos chineses. Sim, estou hospedada na casa de quatro deles, mas o pai e a mãe não ligam muito para as frescuras tradições e rígidas regras sociais chinesas.

No caminho para o restaurante eu fui sendo ensinada coisas básicas, como falar “olá” e “obrigada”, em chinês. Cumprimentei a “tia” (como é amiga de longa data da mãe, virou “tia” dos filhos) com “Hello”, mesmo, porque ainda não me sentia confortável em dizer “Ni Hao” (especialmente porque se você errar um pouquinho, acaba dizendo “xixi” ao invés de “oi”).

Sentamos em uma mesa redonda com uma base giratória no meio. Chineses não têm esse mesmo costume da gente, de pedir cada um sua própria comida. Todo mundo pede junto e a comida é servida nessa base giratória para que todos possam se servir ou beliscar o quanto quiserem.

E, é claro, com hashi. Não comentei aqui porque acho óbvio, mas chineses comem usando palitinhos. Já sabendo disso, treinei bastante antes de viajar para cá e já cheguei sabendo me virar bem. Mas como não tenho olhos puxados, volta e meia acabo derrubando ou tendo dificuldade para comer alguma coisa.

Aí a “tia” e o irmão dela vieram sentar na mesa conosco. E foi a hora de brindar pela primeira vez.

Uma regra sobre brindes com chineses: Como sinal de respeito, os mais jovens e/ou abaixo na hierarquia social devem sempre brindar com a boca do copo mais baixa do que os outros. Isso às vezes gera situações engraçadas, quando duas pessoas mais ou menos na mesma posição hierárquica vão brindar e ficam abaixando o copo até encostar na mesa.

John já havia me alertado sobre isso ainda no Brasil. No primeiro jantar – aquele com os mafiosos –, confesso que esqueci totalmente, levando uma bronca do John. No primeiro brinde deste segundo jantar também esqueci, mas lembrei logo após o “tlim” dos copos. A partir do segundo brinde – por alguma razão, chineses gostam de brindar várias vezes durante o jantar, seja porque alguém novo chegou, porque abriram uma garrafa nova de vinho ou porque lembraram de algo interessante – eu lembrei e não me esqueci mais. Sorte que, novamente, como não tenho olhos puxados, ninguém espera que eu já saiba todas estas regras.

A comida estava uma delícia. Comi caranguejo – que amo de paixão –, lagosta, carneiro e sushi de salmão. Além de uma sopa estranha que estava um pouco apimentada demais para o meu gosto e salgada demais para o gosto dos chineses – John adorou, porque está acostumado tanto com comida chinesa apimentada quanto com comida salgada do Brasil. O irmão da “tia” até pôs um pouco de chá na sopa para aliviar o sal, o que me fez perguntar se isso era normal – não era.

Quatro garrafas de vinho e muita comida e bolo de aniversário depois, voltamos para casa. Ando descobrindo nestes últimos dias que posso tomar qualquer quantidade de cerveja, mas vinho me deixa absurdamente sonolenta. Não sei como não dormi no caminho de volta, mas ao chegar em casa só tive tempo de dizer boa noite e desmaiar na cama.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Dia 6: A Very Chinese Christmas ou Como Jogar Mahjong

Os acontecimentos relatados aqui em meu útimo post se passaram no dia 24 de dezembro. Véspera de Natal. Como vocês já devem (ou deveriam) ter imaginado, chineses não comemoram o Natal. A mãe, toda fofa que é, comprou um Christmas Cake (que é tipo panetone) só por minha causa. Mas não houve ceia nem qualquer tipo de comemoração. Este post não contará, portanto, como são os costumes chineses no Natal simplesmente porque para eles o Natal é como outro dia qualquer.

O dia 25 começou com John e Max resolvendo se lembrar de que o aniversário do pai é no dia 26. Adivinhem se eles tinham comprado presente? Montamos no carro e fomos para o shopping em busca de um presente e na tentativa número 2 de ir ao cinema.

Mas já mencionei que era Natal? Os chineses podem não comemorar, mas a África do Sul sim e aqui, como no Brasil, Natal é feriado e nada abre. E, para piorar, parece que todos os habitantes da Cidado do Cabo acharam que era uma boa idéia ir ao cinema – provavelmente porque era a única coisa aberta –, então todas as sessões estavam esgotadas. Voltamos para casa derrotados e sem ânimo.

À noite comemos um jantar preparado pelo pai. É muito comum os homens cozinharem em casas chinesas, e não apenas em ocasiões especiais. Lavar louça também, pelo menos na família do John, é tarefa masculina, porque mãos femininas têm pele delicada e o detergente faz mal para elas (e quem sou eu para discutir, não é mesmo?).

De cima para baixo: Wan, Tiao, Tong e Feng.
Após o jantar fui convidada a jogar Mahjong. Quem aí já jogou Mahjong no computador? Aquele que tem várias pedrinhas com símbolos chineses e você tem que achar os pares que ficam na mesma camada, sabem? Então… O Mahjong que eles jogam não tem nada a ver com isso. Quer dizer, existem as pedras e existem os símbolos chineses, mas a forma de jogar é completamente diferente.

As pedras são divididas em quatro naipes diferentes: Wan, Tiao, Tong e Feng. O jogo é sempre jogado com quatro pessoas, cada uma com 13 peças. O objetivo do jogo é formar quatro trios – que podem ser seqüências ou trincas. As seqüências, nos naipes Wan, Tiao e Tong, são numéricas.

Agora olhe bem para as peças Wan.


Você conseguiria colocá-las em ordem numérica? Pois é, quando me mostraram as pedras, nem eu. Precisei assistir três rodadas para aprender (pai ficou surpreso com a velocidade com que aprendi – e eu também).

Já as peças Feng não são números e cada uma representa uma coisa. As pretas só podem formar trincas do mesmo símbolo, enquanto as coloridas também podem formar seqüência.

Mas aí entra outra coisa sobre os chineses: eles adoram apostar. Pai e mãe não (nos proibiram de voltar ao cassino, até), mas mesmo assim eles têm duas caixinhas com moedas antigas de 5 rands para brincar. Cada rodada vale, a princípio, 1 moeda. Existem alguns tipos de jogos que valem mais, ainda não entendi muito bem. Mas o que entendi é que às vezes você pode se deparar com uma dessas belezas aqui:

As de cima são as estações do ano, enquanto as
de baixo são flores que nem John sabe direito.
Estas são pedras extras. Não fazem parte de nenhum naipe a sua única função no jogo é fazer quem dá a sorte de pegá-las ganhar mais dinheiro. Cada uma delas dá ao sortudo – caso ganhe a rodada, é claro – uma moeda a mais.

Acho que nunca comentei por aqui, mas sou louca por jogos de mesa. De carta, tabuleiro, dados, não importa. Mas tenho mesmo é uma predileção por jogos de carta. Aprendi a jogar buraco com 7 anos de idade, com minha avó. Desde então me tornei sua companheira e a parceira perfeita do meu pai nas partidas em família. E depois vieram crapô, canastra, paciência… Até mesmo nos jogos mais inocentes, como rouba-monte, porco, mãozinha e mau-mau, lá estou eu na mesa. Truco, por incrível que pareça, só fui aprender há poucos anos e pra falar a verdade não sou muito fã. Acho bobo.

Portanto não é de se surpreender que eu volte para o Brasil carregando uma caixa de peças de Mahjong e obrigue todo mundo a aprender para jogar comigo. Estão avisados.

Quê? Se eu ganhei a partida? Hum… Digamos que naquela primeira noite eu tive sorte de principiante, mas no dia seguinte botei pra quebrar. Ganhei disparado de todo mundo, principalmente do Max (que saiu para se encontrar com uma garota misteriosa e foi substituído pela mãe, que não é lá muito chegada no jogo). Já hoje – dia em que estou escrevendo este post – tive uma vitória linda de um Dragão (é como se chama quando se consegue fazer uma seqüência do mesmo naipe de 1 a 9) arrancada das mãos por John, o impiedoso, e acabei perdendo até minha última moedinha de 5 rands. Mas tudo bem. A vingança será maligna.

Dia 5: Mother Focas


No quinto dia programamos o alarme do celular para tocar às 9:30hs da manhã. Ele de fato tocou, mas John – que havia ficado jogando no computador até sabe-se lá que horas – desligou. Resultado: acordamos às 11 da manhã com Max batendo no quarto e perguntando se a gente tinha desistido de ir ver as focas.

Ah, sim. Antes de dormir, no dia anterior, nós havíamos combinado de ir até a Seal’s Island – que, como o nome diz, é a ilha das focas. Só que, como o nome diz, é uma ilha. Não dá para ir andando e nadando é um pouco difícil, já que o Atlântico do lado de cá é geladíssimo. Portanto, tínhamos que pegar um barco que tem horários programados e o último deles era – de acordo com o site – às 11:10hs.

Acordei de mau-humor por causa do atraso, culpando o John por ter desligado o alarme e por todos os outros crimes da humanidade. Pobre do namorado. Quando meu mau-humor matinal passa, fico morrendo de pena dele.

Resolvemos tentar a sorte e ir para lá mesmo assim, porque o pai tinha falado que havia um último barco que saía às 12:30hs mas não estava no site.

O tal lugar era longe. Quarenta minutos de carro. E quarenta minutos aqui, vejam bem, é bem longe. Mas fomos pela beira da praia e pude ir admirando o mar, o céu e o sol lindo que estava fazendo, o que deu fim no meu mau-humor.

E o pai estava certo. Havia mesmo um último barco às 12:30hs, e como chegamos por volta do meio-dia lá ainda tivemos uma meia hora para ver as barraquinhas de artesanato em volta.

Os artesanatos eram lindos. Eram bolsas, colares, panos e animais de madeira e pedra. Tinha até de marfim – que eu não comprei de jeito nenhum, mas devo confessar que eram lindos e eu me senti culpada por achar isso. Comprei alguns de madeira e um hipopótamo de pedra lindo que ainda não decidi se vou dar para minha mãe ou ficar para mim.

Meio-dia e meia em ponto o barco aportou. Subimos a bordo eu, John e Max, nosso companheiro de aventuras. Várias outras pessoas, de diversas nacionalidades – inclusive um menininho de uns 4 anos de idade que passou falando um português bem parecido, mas que não era, com o brasileiro – também subiram. E o vento batia frio, congelando minhas pernas brancas expostas no mini-short que já virou meu uniforme nos quentes dias daqui.

Então o barco saiu. E lá fomos nós – eu, alegria!, sem enjôo nenhum apesar do balanço – visitar a tal ilha onde as focas tomam sol.
Ainda no porto já dava para ver que de tímidas as gorduchas não tinham nada. Dormiam ali mesmo, nas bóias dos barcos aportados, sem a menor cerimônia. Algumas, provavelmente já recuperadas da soneca da hora do almoço, vinham curiosas se exibir para as pessoas no barco, nadando bem pertinho e ponto a cabeça para fora da água pra espiar, gerando um coro de “AAAAAAWWWWWW”.

Feliz da vida, eu ia tirando fotos de tudo até minha câmera resolver que as pilhas tinham acabado. Paciência, fui registrando tudo na memória. Por isso não pude tirar fotos das pinturas rupestres ao longo do caminho (elas estavam longe e eu preciso trocar meus óculos, mas John me disse que os desenhos eram búfalos).

E então chegamos num lugar cheio de pontinhos pretos na água. Demorou algum tempo para eu entender que aqueles pontinhos todos eram, na verdade, focas. Por algum motivo elas todas nadavam ou com um dos braços (nadadeiras, Tatiana, nadadeiras...) ou com os pés pra fora da água. Havia uma meia dúzia em cima das pedras e eu resolvi tentar ligar minha câmera de novo – o que funcionou e ainda consegui filmar e tirar um monte de fotos. Estava lá, toda entretida e feliz filmando as cerca de duas dúzias de focas nadando e tomando sol, quando John me cutucou e disse que eu talvez preferisse ir para o outro lado do barco.

Lá estavam elas. Dezenas, provavelmente centenas de focas tomando sol e nadando ao redor da verdadeira ilha das focas.

O barco foi voltando bem devagarinho, para não assustá-las (não que eu ache que elas, tranqüilas como estavam, fossem mesmo se assustar com um barco que as visita cinco vezes por dia). E eu fui, criança feliz que sou, me despedindo delas.

Almoçamos em um restaurante de frutos do mar – que eu não sou lá muito chegada, mas eles tinham sushi e se tem um peixe que eu gosto é salmão, mas só se for cru – e na volta John quis me mostrar um pouco das vinícolas das quais os sul-africanos se orgulham tanto.

O lugar era realmente lindo. Uma delícia de ambiente, como aquelas fazendas antigas no Brasil. Só que com uma infra-estrutura muito melhor e toda adaptada para receber turistas.

Havia uma placa que me deixou realmente interessada. “Beware the baboons. Do not picnic.” Confesso que tive vontade de fazer um piquenique só para ver se aparecia algum babuíno mesmo e durante todo o passeio eu não desgrudei os olhos dos campos, na esperança de ver algum. Só vi um esquilo e uma família de patos.

Voltamos para casa e, embora o céu estivesse lindo, nós estávamos cansados. Os pontos turísticos mais importantes da cidade estão muito lotados por causa da alta temporada e só vamos visitá-los depois do Ano Novo. O resto do dia passamos em casa, exceto por uma passada rápida no shopping para ver se conseguíamos pegar uma sessão de cinema. Não conseguimos.

domingo, 25 de dezembro de 2011

Dias 3 e 4: Conhecendo os amigos e enfim!, turismo.

Como uma forma de diminuir o atraso nos meus relatos (porque três dias são mais do que suficientes para que pequenos detalhes sejam esquecidos pela nossa memória), condensarei os dias 3 e 4 em um único post aqui.

Meu terceiro dia na África do Sul começou com algo raro por aqui durante o verão: chuva. Por causa dela (e por termos chegado quase às 5 da manhã do cassino na noite anterior), acordamos bem tarde. Mãe e pai (é assim mesmo que eles falam comigo, “your mum” e “your dad” para falar um do outro) estavam trabalhando, portanto almoço foi por nossa conta.

Fomos ao shopping novamente, fizemos mais algumas comprinhas e voltamos para casa. Dia chuvoso é preguiçoso em qualquer lado do Atlântico.

À noite, então, fomos à casa do melhor amigo da vida toda do John. “Uncle” Victor e seu irmão Morgan. “Autie” Andrea, namorada desde sempre do Victor, não estava.

É difícil me acostumar novamente a apresentações com não-brasileiros. Para ser bem sincera, eu nunca gostei muito dessa coisa tupiniquim de beijinho na bochecha de quem eu nem conheço, mas pelo menos é uma regra social que eu conheço e sei que os outros estão esperando. Mas como cumprimentar um não-brasileiro que não está acostumado ao calor humano dos latinos?

Por sorte “Uncle” Victor fez uma certa pesquisa e já conhecia os beijinhos brasileiros. Só que ele deu dois beijinhos, como carioca, e a paulista aqui só dá um. Beijinhos acertados, ele nos ofereceu vinho.

Sul-africanos têm uma relação especial com o vinho. Falar das vinícolas (e visitá-las) é motivo de muito orgulho e não gostar de vinho é praticamente um insulto. Não sou a maior especialista e sou mesmo é chegada numa cerveja, mas gostei do vinho. John e “Uncle” Victor acharam o vinho mais ou menos. Eu sei lá.

Após muito vinho, ping-pong, sinuca e conversa fora, posso dizer que gostei muito dos amigos do John. O que é um alívio, porque não gostar dos amigos do namorado pode ser um problema sério.

Voltamos para casa por volta da 1:30 da noite. John tinha dentista às 2 da tarde no dia seguinte. Acordamos à 1 com Max entrando no quarto e perguntando se a gente tinha morrido.

Mãe e pai de novo trabalhando, comemos McDonald’s mesmo (que era o mais perto e rápido) e saímos para a dentista.

Ah, sim. Talvez agora seja a hora de explicar que a dentista é a mesma “Auntie” Andrea (lê-se “An-dré-a”, como em português, não “Ândria”, como em inglês) que mencionei antes. Ela, assim como eu, tem descendência suíça. Ela, diferente de mim, fala alemão e suíço-alemão fluentemente.

Novamente o constrangedor momento de não saber como cumprimentar. Ia acenar, ela fez que ia me dar beijinho; eu fui dar beijinho, ela resolveu acenar. Decidimos que um abraço rápido era a melhor forma e ela foi se ocupar de cuidar da boca do meu namorado.

Após isso, “Uncle” Victor foi buscá-la no trabalho e John decidiu que enfim era hora de me mostrar um pouco da parte turística da Cidade do Cabo. Pegamos carona com os dois até o aquário da cidade.

Nemos!
Logo na entrada vi Doris, Nemos e todo o elenco do filme da Pixar ao vivo e em cores. Como no fundo eu sou apenas uma criança grande, passei a saltitar entre os aquários e fotografar e filmar tudo ao redor. John, do alto de sua paciência chinesa, apenas me observava e tirava fotos minhas quando eu pedia.

E, como sou uma pessoa muito sortuda, a exposição especial da temporada no aquário era de sapos. Quem me conhece (e até quem não me conhece, porque faço questão de deixar isso bem claro para todo mundo) sabe que eu tenho pavor de sapos. Com a ajuda do John, no entanto, consegui me desviar deles e não vi quase nenhum.

O lado de fora do aquário é outra coisa fantástica. Ao lado de um hotel 7 estrelas (é isso mesmo, você não leu errado), em frente ao lindo e azul Oceano Atlântico (que deste lado de cá é geladíssimo). Um daqueles centros comerciais bem feitos para turista ver, sabe? Cheio de grupos tocando música e fazendo danças típicas e de lembrancinhas a preços exorbitantes.

Desta vez não pude resistir às lembrancinhas e comprei uma foca de pelúcia por 65 rands (o equivalente a, hum..., menos de 20 reais). Por que foca? Oras, porque ali mesmo, ao lado do hotel 7 estrelas e em volta dos iates dos hóspedes, havia focas descansando ao sol (meu quarto dia aqui – assim como os que vieram após ele até agora – foi de céu azul e sol queimando). Consegui, inclusive, filmar uma família de focas no cais com os dois filhos brigando enquanto a mãe dormia (e de vez em quando acordava, dava uns rugidos do tipo “Menino, se cês não pararem de brigar agora mesmo eu vou aí com meu chinelo resolver isso!” e voltava a dormir).

Mas a história das focas é longa e faz parte do meu quinto dia aqui. Ao quarto dia cabe dizer que ainda não acabou.

Mãe e Max foram nos buscar no aquário e viemos para casa descansar. À noite saímos com “Uncle”, “Auntie” e Max para tomar umas cervejas num restaurante alemão. Na volta, “Auntie” queria passar numa feirinha que ia até a 1 da manhã e me usou para convencer os rapazes (afinal, que turista resistiria ao convite de “Quer ir fazer compras numas lojinhas lá no centro debaixo de luzes de Natal?”).

A feirinha era exatamente como uma feirinha no Brasil, só que completamente diferente. Hum. Complicado? Vejamos... Imaginem uma feirinha dessas de rua, com barracas e gente vendendo roupas e brinquedos e lingeries ao ar livre. Pensou? Agora imaginem que os donos das barraquinhas são todos muçulmanos e que as roupas que eles vendem são roupas típicas de, bem, muçulmanos. E com lingeries sendo vendidas nas mesmas barracas daqueles véus e túnicas de cobrir o corpo inteiro. Agora você têm uma idéia da feirinha.

A África do Sul, assim como muitos países na Ásia e no restante da África, tem muitas pessoas de origem islâmica. Os daqui são essencialmente malaios, mas também tem de outros lugares. Vi pela primeira vez na minha vida uma mulher usando uma burka na rua. Só uma mulher, até agora, mas já deu para sentir a diferença.

É uma coisa bem diferente você assistir O Clone ou ver na TV aquelas mulheres com véus cobrindo a cabeça e aqueles homens usando túnicas. Ver ao vivo dá a sensação de ter entrado em algum portal e ter sido transportado a uma realidade totalmente diferente, à qual você não pertence e faz você se sentir meio um intruso.

Logo o relógio bateu 1 da manhã e as barraquinhas foram se recolhendo. Nós também voltamos para casa, nos despedindo (desta vez sem beijinhos) de “Auntie” e “Uncle”. O quinto dia e as focas nos esperavam cedo.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Dia 2: Casino Royale e Jantando com a Máfia

Meu segundo dia em terras africanas começou por volta das 11 da manhã. Logo após o almoço, fomos ao shopping. Sei que não é o melhor lugar para se começar a explorar novas terras, mas John não trouxe praticamente nada para vestir do Brasil, então precisávamos comprar algumas coisinhas antes de mais nada.

O shopping é, hum… Um shopping. Lojas, cafés, praça de alimentação… A única grande diferença é a arquitetura. Por dentro e por fora, ele não é aquela coisa quadrada e sem personalidade dos shoppings brasileiros. Não sou nenhuma especialista em arquitetura - para isso precisaria chamar o meu pai -, mas arrisco dizer que há um tanto de barroco e/ou neoclássico ali. E pinturas no teto. E muitas lojinhas de lembrancinhas da África do Sul que me deixaram com vontade de torrar todo o dinheiro que trouxemos ali mesmo. Por sorte John não me deixou. Ainda vou voltar lá para comprar algumas coisas, mas a maioria ele disse que encontro bem mais barato e com qualidade muito melhor em outros lugares.

Exploramos bem os shopping e algumas lojas, achamos meia dúzia de roupas para que John tivesse o que vestir e voltamos para a casa. Tínhamos um jantar marcado com amigos antigos dos pais dele às 18:30hs.

O jantar era no restaurante do Ritz Hotel. No último andar. Em uma plataforma circular que girava para mostrar a paisagem em 360°.

Então os amigos dos pais dele chegaram. Um casal mais velho, de cerca de 70 anos de idade, e o filho de 40 com a esposa de 20. Todos chineses, é claro.

A partir daí, me senti entrando em um filme do Jackie Chan. Não das comédias americanas que ele faz hoje em dia, mas daqueles antigos de máfia, mesmo. Agora talvez seja um bom momento para mencionar que, até onde eu saiba, eles não são realmente mafiosos. Mas que tinham cara, tinham. Especialmente o cara de 40 com a cara cheia de cicatrizes de espinha ao lado da esposa estilo China for Import que estava sentado bem em frente a nós.

Apesar da sensação constante de que qualquer um deles poderia começar a dar golpes de kung-fu a qualquer momento, o jantar foi bastante agradável. Ganhei presente do casal mais velho - um pingente lindo mas gigante de pedra com vários morceguinhos (disseram eles que traz sorte) e a comida era muito boa. A vista, então, nem comento. Esqueci minha câmera em casa e quis me jogar do alto do prédio, mas Max, o cunhado, levou a Nikkon dele e tirou algumas fotos. Roubarei mais tarde.

Terminado o jantar, voltamos para casa. John, então, quis me levar a um lugar onde eu jamais havia ido: um cassino. Confesso que tinha curiosidade mas ao mesmo tempo um pouco de medo de perder dinheiro, mas John parecia tão animado e eu defendo a política do "por que não?". Então fomos. John, eu e Max.

Não gostei muito da primeira meia hora lá. Perdi cem Rands (a moeda daqui, vale cerca de 4,5 vezes menos que o real - o que faz, para os ruins em matemática como eu, os 100 Rands valerem cerca de 25 reais) nos caça-níqueis e quis voltar para casa chorando. John, então, resolveu me apresentar à maior perdição e diversão de um cassino: as mesas de pôquer.

A única vez em que eu havia jogado pôquer antes disso foi enquanto ainda estava na Nova Zelândia, e joguei apenas algumas rodadas e portanto não me lembrava como fazer. Após ver John jogar, resolvi tentar a sorte. Não digo que nadei em sorte de principiante, mas fui razoavelmente bem.

É uma sensação estranha, ir a um cassino. É como se entrássemos em uma realidade paralela em que dinheiro vale bem menos do que fora de lá. Enquanto no "mundo real" nós pensamos muito bem antes de gastar 100 Rands em uma camiseta, apostar a mesma quantia em uma rodada de pôquer gera um pensamento de "Vou apostar só isso, mesmo? E se eu ganhar?". Uma total desparametrização (ah, meus neologismos…) do valor do dinheiro. Bastou sair de lá e já voltamos a pensar se valia mesmo a pena pagar 200 Rands para pegar um táxi ou se deveríamos chamar Max para nos buscar (isso às 4:30 da manhã, Max se cansou logo e voltou para casa com o carro).

Uma experiência interessante. Mais interessante ainda ver aquelas pessoas apostando 10, 20 mil (e às vezes perdendo tudo) numa única noite. Nós gastamos cerca de 2 mil e voltamos para casa com mais de 4. Um bom lucro, mas uma loucura para não cometer sempre. Ainda bem que não há cassinos no Brasil.

E assim se encerrou meu segundo dia aqui. Estou escrevendo este diário com alguns dias (três, para ser exata) de atraso porque, como vocês devem imaginar, não tenho tanto tempo livre assim para gastar na frente do computador. Mas àqueles que estiverem se interessando, continuem seguindo. Novos relatos não tardarão a ocorrer.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Dia 1: A viagem, os sogros e a whole new world

Ah, o avião… A oitava maravilha do mundo, que encurta as distâncias e desafia fronteiras, inventada - não me venham com Irmãos Wright - por um gênio brasileiro de 1,65m de altura. Nada como uma viagem de avião… desde que você não se sente nas poltronas do meio de um Boeing 747 por 12 horas seguidas e sofra de enjôo.

Duas situações me provocam enjôos crônicos: ler em movimento (o que é terrível quando você viaja bastante e está na faculdade) e viajar de avião. Não sei quanto a cruzeiros porque nunca fiz um - mas tenho o estranho pressentimento de que a experiência não seria boa para mim. Uma coisa, no entanto, que não sei explicar é porque eu sempre esqueço deste "pequeno detalhe" todas as vezes que viajo de avião.

E não foram poucas vezes. Entre 2008 e 2009 - período em que morei na Nova Zelândia -, fiz quatro viagens de 13 horas seguidas cada (sem contar as três horas até a escala em Buenos Aires). E em todas, sem exceção, eu me esqueci que tinha enjôos. Talvez por não terem sido muito fortes e nem em todas as vezes, mas fato é que esqueci. Por favor, não permitam que eu me esqueça novamente. Ter sempre um Dramin na bolsa quando for viajar de avião, esta é minha nova regra.

Após sofrer, então, por 12 horas (10 até Johanesburgo e depois mais 2 até a Cidade do Cabo), enfim chegamos. Não vou mentir, eu estava nervosa. Muito. Não é todo dia que a gente conhece sogros chineses que não falam inglês lá muito bem. Por mais que John tentasse me acalmar, nada tirava da minha cabeça que eles iriam me odiar e me dar de comer aos pandas de estimação. Ou algo do tipo.

Então os encontramos. Os três chineses - baixinhos, fazendo John parecer um gigante do alto de seus 1,75m - mais felizes do aeroporto. O mais novo - o cunhado, Max, de 19 anos -, segurando flores. Para mim. 

Seguimos para o carro - uma van de 11 lugares, porque os sogros fazem pacotes turísticos para chineses. E a partir daí tive uma idéia - embora estivesse tão morta da viagem que não consegui prestar atenção em absolutamente nada da paisagem no caminho - de como serão minhas três semanas aqui: Ouvir chinês o tempo inteiro, volta e meia tendo a conversa traduzida por John ou pelo seu pai.

Agora, sim, sobre os sogros. Helen, a mãe (que obviamente não se chama Helen, assim como John não se chama John e Max não se chama Max - todos têm seus nomes chineses que eu ainda não aprendi a pronunciar), sempre sonhou em ter uma filha - ou uma nora, o que para eles dá no mesmo. E Sam, o pai, é - ao contrário de todas as expectativas - um senhor muito falante e simpático. Chinês com um tantinho de sangue Real - a mãe é da Manchúria, o que aparentemente significa ter sangue de dinastia do Império -, aprendeu japonês sozinho e sem nunca ter ido ao Japão. Trabalhou como tradutor chinês-japonês por muito tempo antes de se mudar para a África do Sul e virar guia turístico. Fala inglês melhor do que a esposa, então volta e meia traduz a conversa para mim (ou fala diretamente em inglês para que eu possa entender).

Mencionei que Helen sempre sonhou em ter uma filha, certo? Pois é. Pois durante todos estes anos ela vem comprando pequenas coisinhas que daria para uma filha, caso tivesse. E agora ela tem. O que significa que já ganhei mais presentes desde que cheguei aqui do que durante os últimos 5 anos da minha vida. E John disse que ainda tem mais. Claro que adoro ganhar presentes, mas com tantos assim eu já nem sei mais como agradecer. E, como boa mãe chinesa - o que, neste quesito, é igual a uma madona italiana -, vive tentando me alimentar com tudo o que tem na geladeira. As comidas - ok, preciso ser sincera neste momento e dizer "quase todas" - são uma delícia, mas eu ainda não sou um avestruz e de vez em quando preciso me refugiar no quarto para poder parar de comer.

Os dois, sogro e sogra, são duas das criaturas mais apertáveis que eu já conheci. Daquelas que dá vontade de morder e guardar num potinho, sabem?

"Tati-nia" acima. Embaixo, a forma correta.
Ah, sim. Nomes. Como eu disse, os nomes deles não são estas adaptações ocidentais dadas por uma antiga vizinha. E, bom, o meu nome É realmente Tatiana. Depois de alguns minutos ensinando os pais a pronunciarem corretamente, John finalmente conseguiu - coisa que não consegui em 1 ano e meio de Nova Zelândia (onde o mais perto do meu nome que eles conseguiam pronunciar era "Tash"). E a mãe sacou na hora papel e caneta para escrevê-lo em chinês. Na primeira tentativa, escreveu "Tati-nia". Após risos de John e Sam, Helen se corrigiu. "Tati-ana", escreveu.

E me chamam de "Tati", assim mesmo, direitinho, do mesmo jeito que você leu. Ou "Yato", que significa algo entre "moça" e "filha". Ou, como Helen prefere me chamar, "Ana". Agora é o momento em que eu preciso confessar que sempre quis ser chamada de "Ana" por alguém. Acho fofo.

O primeiro dia acabou cedo, como já era previsto. Antes das 10 da noite - fuso-horário de 5 horas à frente do Brasil -, estávamos roncando na cama. E no dia seguinte acordamos por volta das 11 da manhã e John me levou para conhecer um pouco da cidade. Mas aí já é assunto para o próximo post...

domingo, 18 de dezembro de 2011

Um Novo Continente

Para aqueles que ainda não sabem, amanhã vou viajar. Embarco às 18:30hs no aeroporto de Guarulhos rumo a Johanesburgo (e logo em seguida, à Cidade do Cabo), na África do Sul. 

Para quem não lembra, já mencionei em postagens anteriores que o namorado é da África do Sul. Mais ou menos. Bom, o que importa é que sogro, sogra e cunhado moram lá. E vou conhecê-los. E - no que diz respeito aos sogros - não falam inglês lá muito bem. Níveis de ansiedade e medinho altíssimos. Oh, céus.

Vou passar três semanas - praticamente minhas férias inteiras - no Continente Selvagem. E, tal como eu fiz durante minha estadia de um ano e meio na Nova Zelândia em meu antigo blog, vou manter um diário de bordo por aqui. Contarei tudo o que acontecer tão logo tenha acesso à internet (parece que na casa dos sogros a internet ainda é discada). 

Começo, portanto, com um relato da preparação para a viagem.

Não. Um ano atrás eu jamais poderia imaginar que estaria embarcando para a África do Sul. Mas como as coisas - ainda bem - não precisam que você as imaginem para acontecerem, no fim de julho a passagem estava comprada. Presente do namorado. Recapitulando: começamos a namorar em junho. 

Momento utilidade turística: para viajar para a África do Sul brasileiros não precisam de visto. Explicando melhor, porque sempre tem aquele que pensa que "não precisar de visto" significa "livre para entrar". Não é bem assim. "Não precisar de visto" significa que nós não precisamos ir até um consulado sul-africano e entrar com pedido de visto caso nossa intenção seja ficar até três meses no país. Mas sim, quando chegamos no aeroporto de lá temos que passar pela Imigração e convencer o agente de que não, não estamos entrando no país para trabalhar ilegalmente e que vamos voltar em até três meses. Se o agente vai com a nossa cara, ganhamos um carimbo no passaporte. Se não vai, aí já é outra história...

Não precisamos de visto mas precisamos de vacina. Febre amarela. E ela deve ser tomada no máximo dez dias antes da viagem. Faltam informações pela internet sobre isso, mas após muito pesquisar descobri: a vacina pode ser tomada em qualquer postinho de saúde, a carteirinha de vacinação deve ser levada ao aeroporto no dia do embarque e trocada por uma carteirinha internacional. Tomei a minha há cerca de um mês.

Malas prontas. Me prometeram que eu veria leões. Espero que sim. De qualquer forma, volto daqui a alguns dias com novidades. Me desejem boa viagem.