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segunda-feira, 18 de junho de 2012

A Menina e a Estrela

(O texto abaixo foi originalmente escrito em homenagem à minha avó, Maria Ignez Ribeiro, em meu antigo blog. Agora o "empresto" a um amigo que deixou o mundo mais vazio não numa manhã, mas sim em uma noite de domingo.)



O mundo ficou mais vazio naquela manhã de domingo. Uma estrela pulsante de brilho e calor se apagava. Do outro lado do mundo a garota dormia tranqüila em uma madrugada de segunda.
A estrela se apagou sem aviso nos jornais. Nenhum astrônomo poderia haver prevido, nenhum fenômeno celeste anunciava sua despedida. E, todas as estrelas ofuscadas pela luz do sol, a garota não pôde notar a ausência daquela estrela. Foi somente quando a noite se fez presente e as estrelas brilharam no céu escuro que ela notou. Aquela estrela, uma das mais brilhantes, havia se apagado.
As noites se tornaram mais escuras, uma após a outra. Nem mesmo os dias eram mais tão claros quanto costumavam ser. A ausência daquela estrela se fizera tão repentina que seus olhos não haviam tido tempo de se acostumar com a escuridão. E as noites eram frias, e mesmo o sol parecia sentir a falta da estrela que iluminava a noite.
No outro lado do mundo, a garota se sentia triste. Sentada no topo de uma montanha, observando o céu, agarrando-se na vã esperança de encontrar a estrela ainda ali, saindo de seu esconderijo e rindo, brincando de esconde.
Foi quando o sabiá pousou em seu ombro. A garota tentou espantá-lo, não queria ninguém a observá-la em sua tristeza. Mas ali ele permaneceu, como ela a olhar para o céu.
Uma lágrima então rolou de sua face. E outra a seguiu. E mais uma. E tantas lágrimas a seguiram que em pouco tempo o chão ao seu redor tornara-se um imenso espelho d’água. Solenemente, o sabiá desceu de seu ombro direito para o chão.
Ela sentiu seu coração se aquecer. Com um sorriso estancando as lágrimas, a garota encontrou o que procurava. Ali, no exato ponto em que o sabiá pousava, a estrela pulsava um brilho mais forte do que nunca.

sábado, 29 de outubro de 2011

Comercial de Margarina

Há quem sonhe com a família perfeita. Mãe e pai bonitos, crianças lindas, todos sorridentes e bem vestidos sentados ao redor da mesa do café-da-manhã. A típica família comercial-de-margarina, que por anos foi vendida em horário nobre diretamente da televisão para o sofá da nossa casa.

Sua família se parece com isso? É, a minha também não.

Muito se fala sobre a idealização da mulher perfeita pela mídia, mas ninguém parece pensar muito nos efeitos que idealizar a família perfeita podem causar. "Ah, mas todo mundo sabe que aquelas famílias nos comerciais são de mentirinha". Bom, pensando assim, todo mundo sabe que aquelas mulheres esculturais também são de mentirinha (em alguns casos, literalmente: a Beyoncé, por exemplo, já confessou que usa duas meia-calças para esconder a celulite durante os shows).

Não vou querer dar uma de especialista de Fantástico e falar sobre todos os males que vender um padrão de felicidade e normalidade pode provocar na cabeça das pessoas. Mas não me surpreende nem um pouco quando vejo pessoas reclamando de suas famílias que, apesar de não serem as famílias sorridentes de comercial de margarina, são muito bem ajustadas e felizes.

Claro que existem - e muitas - famílias com problemas sérios. Tenho contato com várias pessoas vindas de família assim. Por isso não é difícil identificar quando alguém vem com reclamações vazias.

Digo sempre que sou privilegiada. Venho de uma família que se aproxima ao máximo que a realidade permite de um comercial de margarina. Pai e mãe casados há quase 25 anos, felizes. Nunca presenciei uma briga entre eles - no máximo discussõezinhas bestas. Ninguém na família jamais teve problemas com drogas, ninguém engravidou com 14 anos de idade e nunca ninguém passou fome. Não há nenhuma vítima de violência grave e ninguém próximo morreu antes dos 60 anos de idade.

Temos nossos problemas? Claro. Eu e minha irmã por pouco não nos matamos na infância. Meus pais não me entendiam durante minha adolescência (e não entendem minha irmã agora). Minha mãe e minha avó lutaram contra a depressão durante longos anos de suas vidas. Volta e meia o dinheiro acaba e ficamos na pindaíba. Às vezes falta paciência e brigas acontecem.

Agora imaginem se eu fizesse de tudo isso o inferno da minha vida. "Oh, não posso ser feliz porque minha mãe tem depressão" ou "Oh, meu Deus, não temos dinheiro para ir ao cinema esse mês". É isso o que vejo acontecendo. Várias e várias pessoas reclamando de problemas naturais da convivência em família e sociedade. Pessoas que não se conformam em não viverem num comercial de margarina transformando garoa em tempestade só para terem do que reclamar. As mesmas pessoas que olham a foto da Gisele Bündchen na capa da revista e reclamam por não terem o corpo como o dela - mesmo atraindo olhares nas ruas ainda assim. Porque algumas pessoas precisam ter do que reclamar.

A essas pessoas, apenas sugiro que gastem tanta vontade de reclamar com algo mais útil. Fundem associações de amparo a pessoas com problemas reais, organizem passeatas contra o governo. E se ainda assim precisarem seguir um modelo de família perfeita, sugiro que levem seus horizontes um pouco mais além dos comerciais de margarina. Família feliz é aquela que tem sim seus problemas, suas diferenças e suas peculiaridades, mas que estará sempre lá quando você precisar dela.

A família mais feliz do mundo.

Deixo então essa pergunta - para a qual não espero realmente resposta. As coisas que você reclama da sua família são realmente problemas ou são apenas sua maneira de saciar a vontade de reclamar?