quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Dia 7: Zhu Ni Shenri Kuaile

O dia seguinte ao Natal, dia 26 de dezembro, é – como já antecipei no post anterior – aniversário do pai do John. Acordamos no nosso costumeiro horário e lá estava o pai preparando o almoço. Almoçamos e logo arrumamos uma desculpa para sair e comprar o presente de aniversário dele (que não tínhamos conseguido comprar no Natal, lembram?).

Fomos a uma grande floricultura aqui perto. O pai, nas horas vagas, gosta de cuidar do lindo jardim/horta no quintal e pensamos que um bonsai seria o presente ideal para ele. Ledo engano. Nenhum dos bonsais era bonito o suficiente para a gente ter coragem de pagar o preço das etiquetas.

Saindo da loja, um pouco decepcionados e meio desesperados, vimos uma parte em que havia aquários. No post do meu primeiro dia eu pus uma foto das flores que eles me deram no aeroporto. Se vocês prestarem atenção, vão ver ao lado das flores uma vasilha de vidro. Pois nessa vasilha havia um peixe sem aquário.

Uma luz se acendeu em nossas cabeças. Entramos na loja e escolhemos o melhor aquário para iniciantes e mais uma meia dúzia de peixes (já que o aquário era grande demais para um peixe só). Pagamos e quando chegamos no carro fomos conferir o ticket da compra. O vendedor – muito simpático e prestativo – havia se esquecido de cobrar o aquário (cobrou apenas os peixes).

Como aqui não é Brasil e John e Max não são brasileiros, John voltou para pagar. Max e eu ficamos no carro. Após uma longa demora, John sai da loja com outro aquário idêntico ao que tínhamos acabado de comprar. Ficamos sem entender. John entra no carro e então explica:
“Entrei para pagar e o vendedor ficou surpreso (porque a maioria das pessoas não faria isso). Ele me deu, então, outro aquário para passar o código de barras no caixa. Fui lá, só que na hora em que voltei para devolver o aquário, o gerente da loja estava ao lado do vendedor. Olhei pro vendedor e ele fez uma cara de ‘Pelo amor de Deus, não diz na frente do meu chefe que eu esqueci de cobrar um aquário’. Então peguei o aquário e saí.” 
Voltamos então para casa e demos os dois aquários e os peixes para o pai, enquanto cantávamos parabéns (eu em português e os dois em chinês – como no título deste post). Max se encarregou de montar um dos aquários e o pai ficou todo feliz vendo os peixinhos coloridos nadarem de cá para lá.

Como era um dia especial, ficamos em casa com o pai. Jogando Mahjong. Foi o dia em que eu ganhei. Depois, só perdi.

O jantar de aniversário foi no restaurante da melhor amiga da mãe e minha segunda incursão no mundo dos chineses. Sim, estou hospedada na casa de quatro deles, mas o pai e a mãe não ligam muito para as frescuras tradições e rígidas regras sociais chinesas.

No caminho para o restaurante eu fui sendo ensinada coisas básicas, como falar “olá” e “obrigada”, em chinês. Cumprimentei a “tia” (como é amiga de longa data da mãe, virou “tia” dos filhos) com “Hello”, mesmo, porque ainda não me sentia confortável em dizer “Ni Hao” (especialmente porque se você errar um pouquinho, acaba dizendo “xixi” ao invés de “oi”).

Sentamos em uma mesa redonda com uma base giratória no meio. Chineses não têm esse mesmo costume da gente, de pedir cada um sua própria comida. Todo mundo pede junto e a comida é servida nessa base giratória para que todos possam se servir ou beliscar o quanto quiserem.

E, é claro, com hashi. Não comentei aqui porque acho óbvio, mas chineses comem usando palitinhos. Já sabendo disso, treinei bastante antes de viajar para cá e já cheguei sabendo me virar bem. Mas como não tenho olhos puxados, volta e meia acabo derrubando ou tendo dificuldade para comer alguma coisa.

Aí a “tia” e o irmão dela vieram sentar na mesa conosco. E foi a hora de brindar pela primeira vez.

Uma regra sobre brindes com chineses: Como sinal de respeito, os mais jovens e/ou abaixo na hierarquia social devem sempre brindar com a boca do copo mais baixa do que os outros. Isso às vezes gera situações engraçadas, quando duas pessoas mais ou menos na mesma posição hierárquica vão brindar e ficam abaixando o copo até encostar na mesa.

John já havia me alertado sobre isso ainda no Brasil. No primeiro jantar – aquele com os mafiosos –, confesso que esqueci totalmente, levando uma bronca do John. No primeiro brinde deste segundo jantar também esqueci, mas lembrei logo após o “tlim” dos copos. A partir do segundo brinde – por alguma razão, chineses gostam de brindar várias vezes durante o jantar, seja porque alguém novo chegou, porque abriram uma garrafa nova de vinho ou porque lembraram de algo interessante – eu lembrei e não me esqueci mais. Sorte que, novamente, como não tenho olhos puxados, ninguém espera que eu já saiba todas estas regras.

A comida estava uma delícia. Comi caranguejo – que amo de paixão –, lagosta, carneiro e sushi de salmão. Além de uma sopa estranha que estava um pouco apimentada demais para o meu gosto e salgada demais para o gosto dos chineses – John adorou, porque está acostumado tanto com comida chinesa apimentada quanto com comida salgada do Brasil. O irmão da “tia” até pôs um pouco de chá na sopa para aliviar o sal, o que me fez perguntar se isso era normal – não era.

Quatro garrafas de vinho e muita comida e bolo de aniversário depois, voltamos para casa. Ando descobrindo nestes últimos dias que posso tomar qualquer quantidade de cerveja, mas vinho me deixa absurdamente sonolenta. Não sei como não dormi no caminho de volta, mas ao chegar em casa só tive tempo de dizer boa noite e desmaiar na cama.

1 comentários:

Caranguejo Excêntrico disse...

"Como aqui não é Brasil e John e Max não são brasileiros, John voltou para pagar."

HAHAHAHAHAHAHA!