O oitavo dia começou preguiçoso. Mãe e pai levando grupos de turistas para passear, acordamos tarde. Enrola daqui, enrola dali, pensando no que faríamos naquele dia. Table Mountain (o principal cartão-postal da Cidade do Cabo) estava fora de cogitação porque entre Natal e Ano Novo as filas para subir com o bondinho estariam quilométricas.
Saímos então – John, eu e nosso companheiro de aventuras – para passear no Jardim Botânico (o daqui se chama Kirstenbosch Botanical Gardens). O caminho até lá passava pelo Morumbi (ou seja, a região das mansões) e por uma vista linda e privilegiada do lado de trás da Table Mountain, que a fazia parecer uma daquelas montanhas de filmes do King Kong.
Devo confessar agora que não sou uma grande conhecedora de botânica. No colegial foi a parte de Biologia em que me dei mais mal e nunca entendi muito bem essa coisa toda de briófitas, pteridófitas e angiospermas. Acho árvores e flores lindas como um todo e formando ou enfeitando um cenário, mas não me peça para parar de planta em planta e ficar lendo as plaquinhas com informações.
Kirstenbosch é um lugar lindo. Uma delícia, dava vontade de sentar na grama e ficar ali, ao pé da Table Mountain, apenas admirando a paisagem – o que de fato fizemos. Enquanto estávamos sentados debaixo de uma daquelas árvores típicas da África, um grupo de pessoas a uns cem metros de distância pára para observar algo se mexendo no chão.
Até aí tudo bem. Nem havia parado para prestar atenção. Mas então meu querido cunhadinho Max resolve dizer: “Hum... Acho que é um sapo”.
Eca! Eca! Eca! Irc! |
Sapo. Hum. Acho que nunca comentei isso por aqui antes, e talvez agora seja um bom momento: Tenho medo de sapos. Medo, não; pavor. Não ligo para pererequinhas frias e grudentas – embora as prefira à distância –, mas a simples visão (mesmo em foto) de um sapo grande, verde e gosmento me arrepia os pêlos das costas e me paralisam. Já vi que vou sofrer quando for procurar foto para ilustrar esta parte do post.
“Hum... Acho que é um sapo”. Com estas palavras, Max fez eu me levantar de um pulo e voar para o colo do John. Aos poucos, no entanto, a área racional e curiosa do meu cérebro passou a tentar me convencer. “É um sapo africano, Tati... Você vai mesmo deixar de tirar foto dele?”. Não ligo muito para plantas, mas animais são a minha área, mesmo quando me deixam de cabelos em pé.
Ufa! |
Armada com minha câmera fotográfica e munida de uma repentina onda de coragem, me aproximei da criatura. Cautelosamente, afinal de contas eu não queria sapo monstro africano nenhum me atacando. Mas ao chegar a uma distância que permitia a meus olhos míopes enxergarem, pude ver – com alívio – que não era um sapo, mas sim um caranguejo. E caranguejos eu gosto, principalmente com um bom molho em cima do meu prato.
John e Max não entendiam o que um caranguejo estaria fazendo ali, a uns bons muitos quilômetros da praia mais próxima e ao pé da montanha. Continuando nosso passeio pelo Jardim, logo descobrimos: eram comida de lontra. Não que eu tenha visto alguma, mas a placa num laguinho bem próximo dizia que elas viviam ali e se alimentavam de caranguejos (bom, pelo menos elas têm bom gosto...).
Já o dia 9 se passou como um dia comum. Sem poder ir à Table Mountain ou a outros pontos turísticos que estariam lotadíssimos até após o Ano Novo, passamos de turistas a moradores (bom, John já foi morador, mesmo...). Dia como qualquer outro em qualquer cidade onde você more. Casa, shopping, cinema.
Sim, cinema. Lembram-se de que no dia de Natal nós havíamos tentado ir ao cinema, sem sucesso? Pois é. No nono dia da minha estadia em Cape Town finalmente conseguimos. Apenas eu e John, porque Max estava em um dia de saco cheio e não quis vir com a gente. Assistimos Tintin, que me lembrou da minha infância e quando eu lia os livros do Hergé. Deu saudades e agora quero muito encontrar livros do Tintin para ler.
Como já dizia Douglas Adams no célebre livro O Guia do Mochileiro das Galáxias, não é nem um pouco interessante para os leitores quando o escritor dá todos os detalhes da vida comum. Por isso não vou dizer aqui o que mais fiz no dia 9. Não vou contar que fui ao banheiro, escovei os dentes, assisti TV, almocei, jantei, comi melancia como lanche da tarde e tirei uma soneca depois do cinema.
A única coisa que talvez seja do interesse de vocês é a pipoca que pedi. Tamanho pequeno, que era do mesmo tamanho das médias que a gente come no Cinemark, porque John não queria. Até aí tudo bem. Então experimento a pipoca, ainda no balcão, e estava faltando sal. Pedi para o atendente e ele me perguntou qual sabor de sal eu queria. Diante da minha cara de interrogação gigante, ele recitou uma lista dos tais sabores de sal disponíveis a uma velocidade e sotaque tão impressionantes que olhei para o John com cara de “Me ajuda, pelo amor de Deus”. John respondeu. “Sour cream and onion” (equivalente ao nosso “cebola e salsa”).
Com um estranho pacotinho e a pipoca na mão, nos encaminhamos para a sala de cinema. Na ingênua crença de que o conteúdo do pacotinho se tratava de sal com algum tipo de aromatizante de cebola e salsa, despejei tudo em cima da pipoca. Quem disse que eu consegui comer? Acontece que o tal “sal com sabor” era na verdade algo muito parecido com tempero de miojo. Já tentaram comer pipoca com tempero de miojo cru? Resultado: um pacote pequeno com tamanho de médio brasileiro cheio de pipoca foi parar na lata de lixo e eu fiquei com a língua cheia de pó (mesmo depois de bochechar com Coca-Cola).
Obs.: Como muitos já devem ter notado, no presente momento eu já estou de volta ao Brasil. Meus relatos se atrasaram devido a dias movimentados na minha última semana pela Cidade do Cabo. Mesmo já tendo voltado, os relatos continuam. Condensarei mais alguns “dias comuns” em um mesmo post, mas não esquecerei de nenhum. Continuem ligados.