sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Que tem Fiuk a ver com as calças?

Posso assistir qualquer tipo de filme. Adoro os de suspense e gostou muito de um bom terror (mas tem que ser bom, não me venha com Pânico ou coisa do tipo). Não tenho problemas com cenas de assassinato, sangue, explosões, pedaço de gente caindo pelos cantos. Mas nunca, NUNCA consegui assistir a uma cena de estupro.

Por muito tempo achei que isso se devia ao fato de eu ser mulher e saber que aquilo poderia acontecer comigo. Mas eu também sou gente e poderia ser assassinada, seqüestrada, cortada em pedacinhos e devorada por Hannibal Lecter, não?

Hoje, após ler a brilhante entrevista que nosso caro Fiuk deu para a Playboy, finalmente entendi porquê. Trecho da entrevista:
"Eu sou a favor de a população botar a cabeça no lugar, de as mulheres abaixarem um pouco a minissaia, segurarem um pouquinho a “periquita” porque o bicho está pegando."
Ah, então agora tudo faz sentido! Nós, mulheres, é que temos que abaixar a saia e segurar a periquita porque, afinal de contas, homem não tem o menor controle sobre o próprio pau e se a gente não se cuida, eles saem por aí comendo todas as que derem mole. E as que não derem. Porque se a gente não abaixar a minissaia e não "segurar a periquita", eles podem acabam nos estuprando "sem querer", né?

Versátil: Além de "ator" e "cantor", ele também é um babaca

Vocês podem argumentar que não foi isso que ele disse, que estou pondo palavras na boca dele. Na mesma entrevista ele diz que já fez sexo com sete mulheres ao mesmo tempo. Com certeza, sete mulheres que não abaixaram a minissaia nem "seguraram a periquita". Mas se ele é contra as mulheres que não se "dão ao respeito", porque é que comeu sete delas ao mesmo tempo? Ah, sim, porque ele é homem... Porque elas estavam lá, dando sopa, e ele não podia controlar o pau e dizer não, né?

Entre isso e um homem que acha que pode fazer sexo com uma mulher à força só porque ela está de minissaia é um pulo.

Então eu entendi. Meu problema com cenas de estupro não é porque eu poderia ser estuprada. É porque, toda vez que uma mulher é estuprada, todas são. No nosso direito de vestir o que quisermos, de andar por onde quisermos, de escolher com quem faremos sexo ou não. O estupro a uma mulher não é uma violência contra aquela mulher, mas sim contra todas.

E ainda tá cheio de menina tietando babacas como ele.

6 comentários:

Mariana Teles disse...

Bom Post, Tati. Muito pertinente.
Infelizmente esse tipo de comentário escroto não vem só do Fiuk, temos aí também - tema "batido", eu sei - o ilustríssimo sr. Bastos que muita gente defende com unhas e dentes por ser "só comediante". A coisa mais absurda que eu li foi aquela história de político sair de boa e comediante ser levado a sério. Porra, é por ninguém levar a sério esse tipo de "piada" que a coisa continua a acontecer, são valores bem sólidos ainda, por mais retrógrado que isso seja. A mulher é que tem que se dar ao respeito, a mulher é que tem que fazer seu papel, o papel do homem é comer mesmo.
Ia citar aqui a slut walk e o caso do policial imbecil que foi o estopim da coisa toda, mas acho que já me fiz clara... tô contigo.
E... o Fiuk devia estar constrangido, por isso e por simplesmente existir. Ô pessoa escrota!

Geovana Luzia disse...

Tati, foi muito bom você tocar neste assunto. Há tempos atrás, aqui em Barão, houve a manifestação contra a onda de estupros que estava (ou está) recorrente por aqui. Eu vi uma foto muito boa, na qual uma menina segurava uma placa que dizia: "A culpa do estupro é da: sair de casa à noite, roupa da mulher, estuprador", como se fossem alternativas a serem assinaladas.
O triste é pensar que há até MULHERES que defendem essa ideia mesquinha de que são as nossas roupas que fazem com que ocorra o estupro.
É terrível pensar nesta ideia... e eu estou com você, Tati. Também não consigo assistir a este tipo de cena. Quando tentei, chorei aos prantos... Até em relatos eu fico depressiva. E pelo mesmo motivo que você.

PS: você escreve LINDAMENTE, todos os quesitos, nota 10! Passou na Unicamp! HAHAHAHA. Amo você.

Caranguejo Excêntrico disse...

Você definiu a questão muito bem: "O estupro a uma mulher não é uma violência contra aquela mulher, mas sim contra todas."

Interessante, né, a mulher ter que "segurar a periquita" mas o belo macho varonil achar lindo ter transado com sete mulheres ao mesmo tempo. Se fosse uma mulher a dizer que transou com sete homens ao mesmo tempo, qual a repercussão que o depoimento dela teria?

Não digo que todos devem transar com sete pessoas ao mesmo tempo. Mas devem poder ESCOLHER se querem fazer isso ou não sem que a sociedade como um todo aponte o dedo para ela e grite "puta", "vagabunda", "vadia". E, bom, só as mulheres são julgadas pelo número de parceiros sexuais que já tiveram na vida. Os homens não.

(mode psicologia evolucionista: on)
Aahh, não, mas, olha só, eu tô falando bobagem.
O homem desde os tempos ancestrais aprendeu que tem que espalhar a sementinha dele, é por isso que é NATURALMENTE aceitável ele ter várias parceiras. É NATURAL. É instinto. Por isso tudo bem ele estuprar, ele não consegue segurar seus instintos, a mulher é que precisa tomar cuidado e "fechar as pernas". Aliás, mulher nem gosta de sexo! Só faz para agradar o marido, ou pra conseguir dinheiro, todo mundo sabe. Mulher só tem orgasmo quando faz compras, lembra?
(mode psicologia evolucionista: off)

...

As pessoas precisam perceber que mulher também é um ser vivo pensante, e seres vivos pensantes devem poder escolher o que fazem ou não com a sua própria vida.

Caranguejo Excêntrico disse...

E óbvio que escrevi demais no comentário acima, fiah, desculpaê.
Mas esse assunto em especial me ferve o sangue. :P

Tati Leutwiler disse...

Não tem nada que pedir desculpas, fiah! Adorei esse assunto ter rendido comentários excelentes!

Mas não concordo quando você diz que homem não é julgado pelo número de parceiras sexuais que teve. Experimenta um cara com mais de 17 anos dizer que é virgem, ou um com mais de 25 dizer que só transou com uma ou duas mulheres, para você ver.

Caranguejo Excêntrico disse...

Aaaahh, sim. O que eu quis dizer foi que só a mulher é julgada se tiver tido vários parceiros sexuais na vida. Ou se se atrever a dizer que gosta de sexo.

Mas no sentido que você colocou é óbvio que o homem também é julgado.
Porque é o padrão, né, o homem tem que "espalhar a sementinha". Precisa ser o dominante, o que sabe-o-que-faz, o "garanhão". Homem tem que gostar de sexo, e tem que ser com várias mulheres, de preferência. Poucos parceiros é coisa de mulher, que não gosta de sexo. Cara que transou com poucas é viadinho, ou nerd fracassado, só pode ser.

Essa lógica é perniciosa pra todo mundo. Por quê diabos o fato do ser ter nascido, por um capricho na natureza, com pênis ou vagina significa que el@ tem que se enquadrar em determinados papéis sociais?
Isso frusta tanto homens quanto mulheres, e dá-lhe anti-depressivo na galera que não se encaixa no padrão.